
Desidério
Terapia de Casal e Terapia de Família
A metáfora deriva da nossa necessidade de amenizar e de dominar a dura realidade do contexto do qual estamos inserido, por meio de algo ou alguma coisa que se assemelhe ao momento. O sintoma apresentado por um paciente ou por uma família pode tornar-se uma metáfora de um problema de relação, uma tentativa de conciliar necessidades contraditórias por meio de um símbolo capaz de refletir vários significados.
Metáfora
Terapeuta (para o pai): Então Carla ajudou a unir você e sua esposa e a separá-los ao mesmo tempo. O que você não era capaz de fazer por sua esposa que era capaz de fazer por sua filha?
Pai: De certa forma a mesma coisa
Terapeuta (a jovem): Você... eu não entendo bem por que essa encantadora moça se sente tão grandiosa, tão... Você conhece dom Quixote? Dom Quixote acreditava que era sempre vitorioso; que qualquer situação, lá estava ele no meio... mas no fim ele era apenas um pobre diabo... aparentemente uma caricatura, mas realmente alguém que... ele nem mesmo sabia quem era. Não? você concorda comigo?
Carla: Eu tenho que...
Terapeuta (interrompendo): ele era um pouco como você. ele se parecia com você; ele tinha isso (indicando o corpo da paciente); ele estava sempre perfeitamente vestido; ele tinha sua espada, seu escudo... Bem, você tem uma linda bolsa, suas elegantes botas... mas eu sinto que por dentro você é um pouco como Dom Quixote porque você colocou na cabeça que tem de vencer como ele fez. Você acha que pode encarregar-se de todos os problemas, de todas as tensões... que você acha que eles (indicando os pais) não podem controlar. A raiva e o ódio que sua mãe nutre e que ela deve sempre negar, entretanto... você se apossou do rancor, da chantagem e de alguma coisa mais que não está clara para mim e decidiu dirigir todo o tráfego... bem, é um grande gesto, mas certamente...
Carla: Eu não sei se fiz isso mas se fiz... para mim... eu o fiz inconscientemente.
Terapeuta: Hum, com esse "inconscientemente" a estória não muda muito... também porque mesmo que você não soubesse o que estava fazendo inicialmente, você está perfeitamente consciente do que está fazendo agora. (Carla tenta interromper, mas seu pai a contém) ... você sabe muito bem que sua mãe nunca foi aceita, que ela sente que qualquer reconhecimento que tem foi por causa e não por causa dela e talvez algumas vezes ela pense que teria sido melhor se você nunca tivesse...
(Carla irrompe em soluços)
Terapeuta: A única diferença é que Dom Quixote nunca chorou e isso me dá alguma esperança. Se você pode chorar isso significa que... bem, você pode não acabar da mesma forma.
Usando a imagem de Dom Quixote, o terapeuta foi capaz de englobar uma série de comportamentos e funções da paciente enquanto estabelecia as conotações que caracterizam esse personagem literário e que representam os termos de sua confrontação familiar.
Por exemplo, a primeira sessão de uma menina anorética de 15 anos de idade. Seus pais, avó paterno e outros parentes de seu pai estão presentes. No início da sessão apareceram muitas divergências entre os pais, particularmente um problema sobre o papel central desempenho pela avó paterna. A mãe nunca se sentira aceita pela família do marido e percebia sua posição de marginal na estrutura família. O nascimento de Carla, a paciente anorética, servira para unir os pais, criando um novo equilíbrio familiar. Ela continuou como mediadora "oficial" de suas relações desde então.


